domingo, 23 de janeiro de 2011

Intervenção do Alto

     O céu estrelado denuncia a chegada da noite numa grande metrópole situada no regaço tropical denominado Brasil. Gregório, próspero comerciante, aproveita seus recém-feitos 44 anos saboreando, em longos goles que mergulham garganta adentro, uma substância de alto teor alcoólico, produzindo-lhe uma sensação de êxtase mental a cada milímetro de whisky ingerido.

     Apesar de aconselhado por médicos e amigos da nocividade trazida pelo excesso de ingestão da supracitada substância, Gregório parece surdo a todos os alertas e continua a embriagar-se, dia após dia, com aquela que um dia lhe trará a cessação antecipada dos eflúvios vitais, responsáveis pela manutenção da Vida em seu desgastado corpo físico.

     Além de ver-se como suicida quando deparar-se com a Vida Espiritual, necessitando de tempo indeterminado para o despertar de seu espírito, sua conduta alcoólatra acarretará no desgaste de seu perispírito na região intestinal e do fígado, o qual, agredido e alquebrado, demorará longos anos numa nova reencarnação dominada pela dor e pelos diversos limites físicos causados pela fragilidade do estômago e, principalmente, marcado pela violência das enfermidades relacionadas à fragilidade do fígado, o qual, no presente, encontrar-se-ia em perfeito estado se não fossem os excessos cometidos pelo nosso irmão.

     No entanto, a hora da prestação de contas de Gregório perante as Leis Divinas ainda não é chegada, pois seu corpo, apesar de encontrar a madureza conserva grandes depósitos de fluido vital, substância enérgica responsável pela manutenção da Vida quando estamos todos encarnados no corpo físico.

     Acompanhemos nosso amigo no sorver do último copo, o qual ainda não o satisfaz, razão pela qual requer ao garçom do pequeno estabelecimento em que se encontra mais uma dose. Curioso fato se dá neste momento, o que será demonstrado com a narração da realidade espiritual que envolve nosso personagem.

     Conforme dito acima, Gregório encontra-se num bar de esquina, ponto de encontro para aqueles que optaram pelo vício do álcool, tanto encarnados quanto desencarnados, que, mesmo após o desenlace físico, continuam a procurar a satisfação de suas vontades relacionadas ao corpo físico junto daqueles que possuem ainda o invólucro carnal. Não é diferente com nosso irmão. O mesmo encontra-se rodeado de inúmeras figuras de aspecto mórbido, esquálidos, vestidos com roupas surradas e imundas, que exalavam substância viscosa, escura, envolvendo o encarnado com vibrações deletérias insuportáveis e  exigindo do mesmo cada vez mais e mais copos de whisky ou qualquer outra bebida que lhes satisfaça o desejo pela embriaguez. Um desses seres encontra-se imantado psiquicamente ao encarnado de tal forma que seus corpos se confundem, realizando os mesmos gestos para ingestão da bebida, o que é repetido inúmeras outras vezes pelos demais integrantes do infeliz grupo.

     Apesar desse quadro terrível, é possível notar que tênue luz azulada emana da fronte de outro personagem, também presente à cena, porém com teor vibratório diverso daqueles seres a que nos referimos anteriormente. É Antônio, o garçom responsável pelo serviço de atendimento naquela noite. Rapaz nos seus 20 anos, estava naquele local com o semblante pálido, melancólico, demonstrando a infelicidade em ali labutar. Tal fato se dava em virtude da necessidade do trabalho num estabelecimento desse gênero, não obstante ser considerado pelo mancebo como local insuportável de conviver, ainda que seja para o trabalho. Antônio vive situação emocional frágil, pois sua mãezinha encontra-se gravemente enferma, necessitando de cuidados médicos e de medicamentos dispendiosos, que custam quase que toda a remuneração recebida por seu filho, na profissão aprendida com o pai deste antes de seu desencarne. Apesar da situação singela que vive o rapaz, o mesmo não se entrega à depressão, perseguindo, dia após dia, os valores necessários para o tratamento de sua mãe.

     De volta à cena, deparamo-nos com Antônio exalando psiquicamente energias de coloração completamente distoantes com aquelas emanadas pelos demais indivíduos ali presentes. Tal fato se dá em virtude da condição do espírito de Antônio, que a todo momento do trabalho, eleva o pensamento a Deus, requerendo forças para lidar com aqueles sujeitos que mais lhe pareciam animais em busca de uma caça para satisfazer sua fome interminável.

     Conforme dito, Gregório acabara de requerer mais uma dose ao rapaz, porém, o seu estado era lastimável, não conseguindo manter o equilíbrio das próprias pernas, derrubando inúmeros copos e petiscos colocados cuidadosamente à mesa, com um fio de baba descendo do lado de sua boca entreaberta, grunhindo na exigência de mais alcóol, totalmente entregue aos parceiros de vício desencarnados.

     Tal condição sensibilizou o coração nobre de Antônio, que rogava ao Mestre Jesus o amparo àquele ser, tão afastado do equilíbrio emocional e espiritual a que Antônio estava acostumado. Ao deparar-se com tal nível de indigência, negou à Gregório o que o mesmo lhe requeria, aconselhando-o a debandar-se para o Lar para evitar terminar a noite numa maca de Hospital pelos excessos daquela noite.

     Ao ouvir tal sentença, o homem que atingia a madureza física, porém não a espiritual, deu um urro de cólera e tentou avançar em direção ao rapaz, para agredí-lo a qualquer custo. No entanto, tal conduta não logrou êxito, em virtude da condição física de Gregório, que, após ingerir grandes quantidades de bebida alcoólica, não conseguia sequer manter-se sobre as pernas. Sua condição, porém, não era de toda inofensiva, pois o mesmo, quando atingia tal nível de perturbação, sempre acabava se utilizando de objetos ao alcance da mão para iniciar brigas terríveis, fosse contra outros beberrões, seja contra os trabalhadores que lá atuavam, servindo as mesas. Naquela noite, não seria diferente, pois a mão direita de Gregório já procurava algo com que utilizar, apalpando a mesa à procura de algo que o auxiliasse no desiderato pretendido.

     Tal quadro, tão comum ao ambiente referido, não causou surpresa ou preocupação dos poucos que ali estavam, muito menos dos escassos transeuntes que passavam pelo local. No entanto, para Antônio o quadro físico-espiritual daquele homem era comovedor, pelo que rogou aos Céus o auxílio necessário para aquele situação.

     Foi então que fora possível avistar tênue luz que descia dos Céus, atravessando a pesada carga vibratória que envolvia o local e chegando até nosso iluminado personagem, envolvendo-o por completo. Outro amigo espiritual, o Espírito Protetor de Antônio, que encontrava-se afastado do estabelecimento, mas que mentalizava o pupilo, envolvia-o igualmente com forças revigorantes. Tal envolvimento tocou as mais íntimas fibras de Antônio, que sentiu-se possuído por aquelas vibrações confortadoras, ensejando-lhe contato direto com as entidades superiores que supervisionavam o fato.

     Inspirado pelas idéias renovadoras que se lhe chegavam, aconselhando-o calma e equilíbrio emocional, Antônio perqueriu mentalmente seu agressor, desejando-lhe paz de espírito e que raciocinasse na situação em que se encontrava, para evitar males maiores. Nenhuma palavra foi dita, no entanto, o quadro espiritual retratava o auxílio do Mais Alto àqueles que O procuram, vez que Antônio transmitia verdadeiro passe, sem o saber, pois de suas mãos e de sua fronte emanavam fluidos de tom azulado, que vez ou outra tingiam-se de lilás, vencendo com dificuldade o terreno de completo desajuste psíquico que o local oferecia, dirigindo-se lentamente ao agressor, que neste momento já estava com uma garrafa na mão, ameaçando aquele que considerava inimigo, pois que lhe negara a continuidade do vício naquela noite.

     No entanto, ao ser tocado pelas vibrações de compadecimento e amor emanadas por Antônio, Gregório sentiu-se em choque, impossibilitado de reagir, largando a garrafa que quebrou-se com estrondo ao contato com o chão. Os fluidos emanados por Antônio continuavam a envolver o embriagado Gregório, o que acarretou no desligamento de seus asseclas espirituais, que debandaram o local berrando impropérios e provocando tumulto entre os errantes espirituais que vagavam sobre o ambiente terrestre.

     Gregório, ao ver-se livre temporariamente dos companheiros espirituais que escolhera conviver, alimentando o vício que todos eles possuíam, sentiu-se fatigado, pois a sua força era mantida pelos fluidos animalizados dos seres espirituais a que estava conectado pelas emanações mentais idênticas, ocasionando nos laços espirituais a que nos referimos.

     Resolveu, então, se dirigir ao lar, que ficava a poucas quadras dali, evadindo-se do local após jogar algumas notas de dinheiro sobre a mesa.

     O fato relatado nas linhas acima demonstram que a Providência Divina não abandona aqueles que a buscam, apesar de estarem mergulhados em ambientes em que Espíritos de Luz, que desejam o Bem comum não adentram.

     O amparo recebido por Antônio se justifica pelo fato do mesmo mentalizar Jesus e, principalmente,  imitar-lhe a conduta no trato diário com seus familiares e amigos, além daqueles que convive por força da Lei de Atração e da Lei de Causa e Efeito. Por esse motivo, apesar de situar-se em região espiritual antagônica àquela usualmente habitada por seu Mentor e outros espíritos amigos, foi revigorado por forças espirituais superiores, que o auxiliaram no momento da possível agressão de Gregório.

     Por esse motivo, aconselha-nos os ensinos do Mestre que devemos evitar todo e qualquer ambiente relacionado à busca da satisfação dos prazeres terrenos, sem qualquer consideração com a máquina física destinada a nosso cuidado ou com a Vida de outras pessoas ao nosso redor. Em tais ambientes, o socorro espiritual não alcança aqueles desvinculados com o serviço de amor ao próximo, que não coadunam com os sentimentos cristãos e de auxílio fraterno.

     O personagem utilizado para retratar o servidor fiel do Cristo no convívio com a humanidade demonstrou que, quando se está diante de uma situação infeliz e, inclusive, de atentado à própria Vida, roga auxílio às alturas para se ver livre da referida situação, mas principalmente, para auxiliar aquele que a provoca.

     Sendo assim, recordemos de nossa função na Terra, como reais servidores do Cristo para a evolução daqueles que se encontram no trânsito carnal, bem como aqueles que já encontram-se destituídos do invólucro carnal, para que um dia, que não se encontra distante, possa haver a separação do joio e do trigo, conforme elucidara Jesus, e estejamos vinculados ao serviço cristão para evitar uma nova expulsão, direcionando-nos ao Planeta que se aproxima da Terra para servir de Lar-Escola para aqueles que permanecerem renitentes no Mal.

Um comentário:

  1. Rapaz.
    Que negócio grande é esse?
    Romance é dividido em capítulos, esqueceu?
    Da próxima vez divida: capítulo 1, capítulo 2, e assim sucessivamente.

    Brincadeira hehe

    Este daqui achei parecido com os contos que o espírito Humberto de Campos (Irmão X) psicografava pelo Chico Xavier.
    Ele pegava um fato da vida cotidiana e, como um excelente cronista, desenvolvia o sentido moral.

    Muito bom também.

    Abraços!

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