sábado, 18 de junho de 2011

Apesar de...

Bruno, palestrante espírita, ou seja, homem dedicado em divulgar o Espiritismo através de congressos, palestras e seminários, abordando diversos temas e enfatizando os ideais cristãos para solução dos problemas tratados em suas explanações, tornou-se célebre no meio espírita como excelente expositor das máximas espíritas-cristãs.

Como de costume, Bruno foi convidado a realizar uma dessas palestras numa cidade próxima de onde reside, localizada no interior da Bahia. De bom grado, aceitou, preparando-se previamente para o evento. Ao dirigir-se à referida cidade, hospedou-se em casa de um grande amigo, Jairo, o qual também era conhecido por tratar dos mais diversos temas concernentes ao Espiritismo.

Assim, às 20:00hs de uma terça chuvosa, Bruno postava-se defronte ao portão da residência do antigo amigo, apertando a campainha levemente para não incomodar a ninguém. Após alguns instantes, abre-lhe a porta Jairo, o qual reconheceu imediatamente o amigo e o abraçou, sinceramente feliz pela visita.

Após adentrar e informar como havia se passado a viagem, Bruno banhou-se e sentou-se ao sofá para conversar com seu amigo sobre as ocorrências da Vida, tão singelas e únicas para cada um deles. Foi então que nesse momento, Bruno percebeu que Jairo encontrava-se pensativo, com o olhar fixo ao teto, enquanto relaxava o corpo numa poltrona.

- Pensando em quê, amigo? - questionou Bruno.
- Oh! Desculpe-me, caro amigo, pela indelicadeza de deixar-te falando sozinho enquanto divago o pensamento em coisas banais... - desculpou-se, em resposta, Jairo.
- Jamais! Não se prive de compartilhar com seu amigo o que lhe preocupa! Vamos, diga! O que lhe aflige?
- Na verdade, irmão, nada me aflige. Estou apenas a refletir sobre uma ocorrência que me surpreende por esses dias.
- O que houve? - perguntou Bruno, movendo-se ligeiramente para frente, de forma a ficar mais próximo ao amigo.
- Veja só. Todos os dias, ao me dirigir à padaria situada a algumas quadras daqui, acabo passando por uma banca de jornais, onde sempre compro a edição diária do jornal da cidade. O jornaleiro, o sr. Edilson, sempre foi afável e atencioso comigo, tratando-me como um cliente antigo. - até esse ponto, Jairo sorria - Ocorre que, de tempos para cá, o Sr. Edilson começou a me tratar com uma rispidez tremenda, chegando a jogar o jornal em minhas mãos, com total desconsideração. - terminou Jairo com a face já sem o sorriso costumeiro, mas sem afetação, apenas mantendo um semblante sério e preocupado.
- Ora! Que desleixo! Como pode um comerciante tratar dessa forma um cliente já antigo? - protestou Bruno, indignado com a situação vexatória a que estava passando o amigo. - Pois amanhã lhe acompanharei para constatar esse fato!
- Sim, iremos. Já estava com a intenção de convidar-lhe. Preciso de outra opinião sobre essa problemática. - finalizou Jairo - Mas não vamos nos ater a esse tema. Deixemos para amanhã! Mudemos de assunto. (...)

E assim se passaram algumas horas, onde ambos trocaram experiências e opiniões sobre outros assuntos.

No dia posterior, no horário aprazado, seguiram Jairo e Bruno para a padaria, passando primeiro na banca de Jornais do Sr. Edilson. Sob a orientação da noite anterior, Bruno resolveu manter-se um pouco afastado para assistir à cena com todos os seus detalhes. Jairo, como de costume, se dirigiu normalmente ao jornaleiro.
- 'Dia, Sr. Edilson! - disse Jairo, direcionando a mão direita para cumprimentar o comerciante.
A resposta, porém, veio seca e de malgrado por parte do Sr. Edilson, que nem ao menos levantara a cabeça para receber o antigo cliente, limitando-se a continuar analisando as páginas de uma revista à sua frente.
- A edição do dia, por favor. - requereu Jairo, serenamente, fingindo não haver notado a indelicadeza do ouvinte e depositando o valor do jornal na bancada aonde o jornaleiro estava sentado.
Bufando como um touro e com o aspecto mal-humorado, Sr. Edilson levantou-se de má vontade, agarrou uma edição do jornal local recebida aquela manhã e jogou-a às mãos de Jairo, fazendo-o praticamente abaixar até o chão para alcançar o objeto lançado.

Bruno quase não podia acreditar na cena, de tão infeliz que era. Indignado, balançava a cabeça, olhando aquele indivíduo tão amargurado.
Seguiram ambos o caminho programado sem comentar por alguns minutos o ocorrido. A certa altura, no entanto, Bruno não se conteve e exclamou:

- O amigo realmente disse a inteira verdade quando tratou da ocorrência. O jornaleiro efetivamente age com total indelicadeza para com você, amigo!
- Você constatou o mesmo, não foi, Bruno? Pois então. Esse é o meu dilema atual. A causa dessa amargura!
- Mas, amigo, porque continuas a comprar as edições diárias junto a este comerciante, se o mesmo lhe trata com tanto desprezo? Tu ainda continuas a lhe dar dinheiro?
- Ora, Bruno, veja bem. Não irei alterar a minha rotina por conta de uma atitude infeliz de outrem. É mais vantajoso para mim comprar nessa banca pois é a mais próxima de minha casa e corta o caminho para a padaria. Não irei buscar outros meios para adquirir a edição diárias apenas porque um indivíduo encontra-se em conflito interior. O desequilíbrio alheio jamais deve interferir em nosso estado de coisas.

A sabedoria daquelas palavras não ensejaram a Bruno mais questionamentos e o assunto não rendeu quaisquer comentários posteriores. A conduta do amigo serviu de lição eterna para Bruno, o qual compreendeu a importância de mantermos nosso estado íntimo equilibrado, ainda que o Mundo exterior apresente-se totalmente desequilibrado e infeliz.

*---------------------------------------------------------------------------------*

A história retratada nas linhas anteriores é verídica e é contada por um expositor espírita muito respeitado: Flávio Santos. A sua experiência nos serve de lição elevada acerca da manutenção do estado íntimo elevado, consciente e equilibrado.

Ainda que os seres que nos rodeiam apresentem problemas e disfunções comportamentais que nos ofendam, devemos buscar o esquecimento dessas atitudes e a busca da renovação íntima. Jamais devemos alterar nossas condutas ou escolhas elevadas por conta do desequilíbrio alheio. Se assim o fosse, Jesus não se manteria firme nos seus ideais, quando toda uma sociedade objetivava fazê-lo pensar diferente.

Mantenhamos, dessa forma, o pensamento em Cristo, sabendo que as nossas condutas e escolhas no Bem irão sempre trazer desconfiança e estimular a maledicência alheia, os quais nunca estarão satisfeitos enquanto não nos transmitirem os seus desequilíbrios. O importante, porém, é mantermos essa sintonia elevada, apesar de tudo e de todos, pois daremos conta ao Pai Eterno das escolhas que tomamos na Terra e especialmente do que fizemos para o próximo.

2 comentários:

  1. Ligue não.
    Todo Bruno demora um pouco para entender as coisas mesmo hehe

    Naturalmente, devemos dar às pessoas o direito de serem o que elas querem, mesmo que optem por basear a conduta delas no desequilíbrio.

    Ao mesmo tempo, temos o nosso direito de permanecermos firmes no nosso ideal do bem, independente das desarmonias alheias.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  2. Por um momento achei que fosse Bruno. KKKKKK'

    É verdade, porém não tão fácil. Creio que quando isso ocorre com alguém um tanto 'distantes' de nós, como um comerciante, um padeiro.. por mais clientes antigos que fôssemos ou compartilhar um amizade, não seria a mesma coisa se fosse um irmão, uma mãe, um pai, um noivo(a).

    Sofremos muito quando essas coisas acontecem dentro de nossa casa, manter o equilíbrio nesse aspecto é muito complicado, mas como você disse temos que manter os pensamentos em Cristo e deixar as influências de lado.

    beeijos, ótimo texto *-*

    ResponderExcluir