sexta-feira, 29 de abril de 2011

CAMINHO DA REDENÇÃO - PARTE II


Nota do autor: Para melhor compreensão, ler primeiro a PARTE I.

[...]

“Pássaros?”

Ainda com os olhos fechados, Marcos estranhava a melodia da Natureza que o rodeava. Não saberia afirmar com precisão quanto tempo havia que não escutava o cantarolar dos pássaros, o som de correntes d’água, do vento acariciando a folhagem robusta de belíssimos campos.

Sem acreditar no que lhe passava, Marcos descerrou os olhos e constatou que encontrava-se numa sala comprida e organizada, aonde estavam dispostos diversas macas, a alguns metros do chão e meticulosamente dispostas lado a lado no grande salão.

Sons da Natureza escapavam de dispositivos semelhantes a caixas de som, que estavam espalhadas pelas paredes que cercavam o local, acalmando e inspirando reflexão em todos que ali repousavam.

Outros espíritos ali também estavam, alguns confusos, outros chorando copiosamente, agradecidos pela dádiva do socorro espiritual que os alcançara. Com Marcos não ocorria de forma diversa, pois a nova ambientação em que se encontrava o fazia refletir acerca de seus atos até aquele momento.

Seu estado espiritual era deplorável, resultado do abuso dos sentidos recebidos por Deus para elevá-lo às alturas quando encarnado, mas que fora utilizado somente para alcançar os prazeres passageiros que a Terra oferece, lesionando pouco a pouco suas forças psíquicas.

Em virtude dos grandes sofrimentos a que passara nosso personagem, a forma de seu perispírito alterara-se sobremaneira, dando-lhe aparência grotesca e disforme, principalmente nos braços e pernas, os quais estavam arqueados e com grandes manchas negras em sua superfície.

Apesar de nunca ter tido contato com as máximas da espiritualidade, Marcos compreendeu com o passar do tempo, que não mais habitava o corpo físico e que certamente havia morrido, tendo sido levado para regiões de sofrimento.

Ainda não conseguia se levantar e, por esse motivo, era atendido em suas necessidades por enfermeiros dedicados que surgiam de quando em quando para ministrar passes e alimentar os enfermos da alma.

Numa dessas visitas, Marcos indagou:

- Amigo! Estarei eu no Céu?

- Comparado ao local onde encontrava-se, pode-se dizer que sim – respondeu o benfeitor.

- Mas... Como pode? Não sou digno dessa dádiva... Meu comportamento quando vivo não foi dos melhores – continuou Marcos, abaixando a cabeça, balançando-a lentamente enquanto expunha seus erros.

- Não deves pensar nisso agora, Marcos. Não devemos questionar a Vontade Divina e menosprezar as lições que o destino nos impõe. Certamente, o momento de seu resgate foi determinado por Ele e, sendo assim, você pôde fruir de nosso auxílio nas regiões abissais em que se encontrava. Não se prenda aos atos do passado e jamais se entregue indefeso à consciência de culpa. Do contrário, poderá anular as possibilidades de reerguimento, prendendo-se à condutas de erro que já fazem parte do passado.

Marcos a tudo escutava com os olhos marejados. As lições evangélicas penetravam em seu espírito, trazendo-lhe o arrependimento das faltas cometidas, mas também a esperança de um futuro radioso junto daqueles que verdadeiramente seguem as lições do Mestre Nazareno.

O processo de sua recuperação, no entanto, seria lento e doloroso, vez que teria que reorganizar seu perispírito, devolvendo-lhe a forma natural. E isso somente se concretizaria com sucessivas reencarnações, marcadas por limitações e sofrimentos físicos, instrumentos de correção que ajustam a conduta humana para a direção correta.

Enquanto encontrava-se em repouso, sorveu horas de diálogos benfazejos, os quais eram ministrados por seus benfeitores espirituais, sempre dispostos a envolver os sofredores com a palavra abençoada ensinada por Jesus.
Com essas conversas, pôde Marcos compreender a dinâmica da Vida e a relação direta entre encarnados e desencarnados, num fluxo constante de trocas de energias e opiniões, contribuindo para o avançar de alguns e o estacionar de tantos outros nas situações diversas que a Vida proporciona.

Foi nesse clima de equilíbrio espiritual que Marcos foi se recuperando aos poucos, refletindo sobre seus atos e buscando amealhar novos conhecimentos, que contribuíram para o despertar definitivo de sua alma sofrida.

Passado algum tempo nas câmaras de recuperação, Marcos já conseguia andar. E, após abandonar o salão, se dirigiu à uma janela próxima e pôde constatar, maravilhado, que se encontrava num local belíssimo, e que os sons que escutara nos últimos tempos vinham da natureza abundante que rodeava o “hospital”.

Enquanto fixava o jardim repleto de diversas espécies de flores e pássaros, alguns desconhecidos na Terra, não percebeu que se aproximava um homem alto, vestido com túnica alva, o qual envolveu Marcos com um dos braços e lhe disse:

- Como está se sentindo, querido amigo?

Marcos olhou, surpreso, em direção ao homem e respondeu:

- Confuso.

- É natural, Marcos. Grande parte dos seres que habitam a Terra não se preocupam com as questões do espírito enquanto encarnados. Esse menosprezo para com as questões extra físicas fazem com que o impacto seja maior quando do desencarne. Não foi diferente com você. Busca agora refletir daqui para frente acerca da necessidade de evoluir, praticando o bem comum e volvendo ao Orbe Terrestre sucessivas vezes, até que possa afirmar, sem qualquer dúvida, que é um verdadeiro cristão.

- Sim! Esse é o meu maior desejo! Como não posso ver a Jesus, irei servi-lo como forma de agradecimento pelo meu resgate!

- Considera-se pronto, portanto, para reencarnar, amigo?

Aquele questionamento causou um choque em Marcos, que não tinha certeza se encontrava-se verdadeiramente pronto para enfrentar novamente a carne e suas tentações. Empolgado pelas longas palestras que ouvia e pela retidão de conduta dos seus amigos espirituais, Marcos afirmava que queria voltar à Terra para recomeçar, sofrendo as conseqüências de seus atos passados, porém, com novos conceitos a lhe guiarem.

Ao pensar no retorno, porém, leve amargura lhe tomava, acompanhada do medo de errar, ciente que estava do esquecimento natural que nos é imposto quando reencarnamos. Compreendia Marcos, porém, que sem o esquecimento não poderia avançar, pois se recordaria do mal que fez, reencontraria antigos perseguidores e perseguidos e, definitivamente, esses reencontros não lhe fariam bem, lhe atrapalhando a marcha e revivendo antigos desafetos.

Diante do silêncio de Marcos, o qual encontrava-se com o pensamento disperso, confuso, o amigo espiritual disse-lhe:

- O alpinista jamais alcança o cume da montanha se não iniciar a escalada quando estiver em sua base. Somente com a experiência na Terra é que podemos escalar a Montanha que nos leva à Perfeição. Lembre-se que você não estará sozinho. Além de nós, seus amigos espirituais, Jesus o observa do alto desta grande Montanha, guiando os seus passos e de todos aqueles que o rodeiam. Não fará essa viagem sem nenhum equipamento. Haverá companheiros de marcha que atuarão para facilitar a subida, colaborando para o sucesso de todos nessa tarefa redentora.

Aquelas palavras estimularam o ânimo de Marcos, que sentiu-se motivado para prosseguir, abandonando o temor e disposto a enfrentar as problemáticas que lhe surgiriam.

Com o olhar fixo no horizonte, Marcos sentiu o coração bater forte em virtude da emoção que lhe tomava e, ao mesmo tempo, suave torpor lhe tomava a mente, fazendo-o relaxar e se sentir leve.

Seu mentor aplicava-lhe passes e direcionava energias para seu sistema nervoso, fazendo-o adormecer. E, após direcioná-lo para um assento próximo, tomou as providências necessárias para sua reencarnação, numa nova experiência junto daqueles os quais contraiu dívidas, devendo, agora, adimpli-las.

A Perfeição Divina pode ser melhor compreendida quando analisada sob o aspecto racional. É por esse motivo que o caso aqui apresentado somente alcança entendimento total se visualizamos a Justiça de Deus de forma a perceber sua misericórdia para com os chamados “pecadores”.

Marcos certamente não provoca afeição a qualquer pessoa cujo entendimento esteja limitado pela visão materialista. Para estes, ele não passe de mero criminoso, que deve sofrer as últimas conseqüências de seus atos, sofrendo eternamente num local infernal.

Porém, sabemos que a Justiça Divina não se concretiza dessa forma, condenando eternamente aqueles que erram, sem dar-lhes qualquer oportunidade de redenção. Se assim o fosse, todos nós estaríamos eternamente condenados e sequer aqui estaríamos.

Todos erramos. Podemos afirmar isto sem dúvida alguma, pois se estivéssemos livres de erros, não habitaríamos a Terra. Este planeta é caracterizado pela predominância do Mal, este último entendido como a busca dos interesses próprios, em total desconsideração para com os interesses alheios, o que leva à concepção da qual os egoístas se baseiam para fazer predominar suas vontades.

O clima atual que envolve a Terra inspira mudanças. Nova Era se aproxima para os habitantes da Mãe Terra, e, por esse motivo, a predominância do mal vai perdendo forças, dando lugar à seres espiritualmente evoluídos, que reencarnam em nosso Orbe para colaborar com a Regeneração do mesmo.

Dessa forma, devemos proceder da melhor forma possível, elevando nossa conduta ao exemplo do Mestre Nazareno e aguardando em Sua Paz pelo momento da separação do joio e do trigo, onde aqueles desmerecedores das benesses divinas serão recambiados a Orbes saídos da animalidade, para então valorizarem a boa conduta, o bom conviver e a caridade para com o próximo.

Na conjuntura atual, para Marcos obter mérito para permanecer na Terra terá que aceitar as limitações físicas provocadas pelos anos de equívocos, e permanecer em contínua ligação com seu Mentor Espiritual, abdicando das antigas condutas criminosas e direcionando suas energias criadoras para o trabalho em favor do próximo e o desenvolvimento de suas faculdades morais.

Tenhamos como exemplo a vivência aqui retratada, que nos cientifica da realidade espiritual e busca despertar os corações ainda vinculados com as inspirações menos dignas das trevas, as quais agem incessantemente para amealhar novos componentes para essa horda dedicada ao mal.

Saibamos que o Mestre Jesus nos acompanha a escalada, auxiliando-nos e envolvendo-nos com Teu Amor, para que o fardo seja aliviado e para não repetirmos os erros cometidos no passado, ainda tão presentes em nossas escolhas diárias.

Um comentário:

  1. Muito boa a postagem, isso ele teve consciência da suas atitudes e muitas que nem tem? Aqueles que mesmo sofrendo sabendo dos erros cometidos se fazem de vitimas por muito, muito tempo?
    Graças a Deus temos a chance de nos redimir dos nossos erros, revê-los e pagar justamente por eles. Deus jamais nos abandona e temos sempre irmão dispostos a ajudar se estivermos na mesma vibração, caso contrario só podem esperar e orar para que voltemos atrás e pedirmos perdão.

    Beeeijooooos ;*

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