segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Maldade

Em o "Livro dos Espíritos", questão 630, os benfeitores espirituais afirmam a Kardec que "o bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta".

No livro intitulado "A Gênese", no capítulo III, afirma Allan Kardec que "sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem". Origem essa que, conclui o codificador, procede do próprio homem no exercício do seu livre-arbítrio.

Diante desses conceitos, devemos atentar para as nossas atitudes e pensamentos em relação ao próximo, uma vez que muitos indivíduos não consideram suas ações como maldosas, por entenderem que maldade teria um conceito diverso, mais gravoso.

Praticar o mal, no entanto, significa realizar tudo aquilo que deixa o próximo infeliz, que incite a separação, as contendas, o ódio nos corações humanos, o desequilíbrio e a miséria moral. Ainda que nosso pensamento não se concretize, através de uma ação, o "simples" fato de pensar o mal, já traz consequências infelizes para nós e para os outros.

Inclusive, uma atitude comum a todos nós e que leva no próprio nome a maldade é a maledicência.

Apesar de muitos pensarem que falar mal de alguém não se constitui como maldade, devemos recordar as palavras de nosso Mestre amado, quando nos aconselhou a perdoar as ofensas, retribuir o mal com o bem e amar aos nossos inimigos.

Quando pensamos mal de alguém, e consequentemente transformamos em palavras a nossa intenção inferior em relação a outrem, enviamos para esta uma carga de sentimentos infelizes, contrários à Lei de Amor que deve viger nos corações daqueles que se propuseram a seguir o Nazareno.

Evitemos, portanto, dar ensejo à maledicência no nosso trato diário com o próximo, além das outras inúmeras paixões que nos caracterizam a alma em erro, trazidos de séculos na inferioridade e na prática do mal.

Nos leciona Joanna de Ângelis: "E as paixões hoje são quase as mesmas de ontem, senão mais açuladas, mais violentas e devastadoras, no homem que prossegue inquieto".

Diante desse quadro percebido por um espírito de tão elevada estirpe, devemos nos indagar se formamos esse grupo humano, que continua a satisfazer suas paixões de forma ainda mais violenta e devastadora, atrasando-nos a marcha de forma aparentemente eterna, mas que um dia será retomada, seja por escolha própria, seja pela imposição da dor.

Allan Kardec, insígne codificador, aduz: "Deus não criou o mal; foi o homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre arbítrio".

Ora, como Deus haveria de criar algo que contrarie sua própria Lei? O que Ele criou foram seres capazes de igualmente criar obras de menor magnitude, mas que poderiam verter para a bondade ou serem direcionadas para causar infelicidade.

Sendo assim, nós, Humanidade, através do poder que nos foi concedido pela Divindade, optamos pelas obras que produzimos, dedicando-nos a criar tudo que acelera a evolução da sociedade ou realizar tudo aquilo que atrase nossa marcha evolutiva, ainda que temporariamente.

Lázaro, em uma mensagem intitulada "A lei de Amor", presente no Evangelho Segundo o Espiritismo, nos traz o seguinte ensinamento:
Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor...

Os instintos, as sensações e os sentimentos estarão presentes na existência humana em determinadas combinações, durante todo o processo evolutivo, com a preponderância de alguns sobre os outros.

Na fase inicial de sua jornada – na condição de simples e ignorante – é possível que o instinto lhe seja o melhor guia; à medida que desenvolve as potências da alma – a inteligência, a vontade – ele tende a apegar-se às sensações, pois não desenvolveu ainda, na mesma proporção os sentimentos, que permanecem como presença latente e promessa futura; como a inteligência desenvolve-se mais rapidamente, na ausência de sentimentos como a fé, a esperança, a caridade, o homem tende a prender-se à sensações materiais; por fim, aliando a inteligência (instruído) e as experiências de vida (depurado), os sentimentos começam a ocupar maiores espaços de manifestações anímicas no homem.

Podemos, assim, afirmar que os instintos e as sensações ainda convivem conosco hoje, pois como espíritos encarnados, imersos em um corpo físico, estamos sujeitos às leis e às atrações da matéria, porém os sentimentos tendem a dominar-nos a alma, aliado à inteligência, que já temos desenvolvido sob as suas diversas modalidades.
Podemos perceber, assim, que de forma geral, os seres humanos priorizam o avanço intelectual para, após, preocupar-se com o avanço moral (sentimentos). Enquanto este último não chega, estão entregues às sensações impostas pela matéria, envolvendo-se com a satisfação dos prazeres proporcionados pelo sexo, poder e demais sensações meramente materiais.

Após o sofrimento, que é consequência natural do abuso das aludidas paixões, o homem passa a atentar-se para o sentimento, preocupando-se mais com o próximo, com as dores alheias e com o avanço sentimental.

Quando, então, atingirmos o patamar mais elevado de prática do Bem, estaremos livres de qualquer sentimento inferior, dentre eles o mais prejudicial, que é o da maldade, responsável pelas dores que tanto conhecemos neste Orbe.

Com esperança no futuro que nos chega a passos lentos, temos a certeza de que, à medida que depuramos nossos corações, a maldade vai fazendo parte de nosso passado sombrio, que um dia não será nada mais que uma lembrança ruim de um tempo que jaz há muito esquecido!

2 comentários:

  1. Esse primeiro parágrafo do texto de Lázaro nunca sairá da minha mente, pois foi com ele que eu comecei a minha primeira palestra no Centro, para o tema Sexualidade e Educação.

    Outro conceito que podemos recordar que enriqueceria o texto é aquele que diz que para ser bom não basta apenas não fazer o mal.
    Pois o simples fato de não fazer o bem já é um mal.
    Esse pensamento está bastante presente no Livro dos Espíritos.

    Mas é curioso ver como o homem vai realmente evoluindo e sutilizando o "filtro" que o faz diferenciar o bem do mal.
    Na minha época de colégio eram muito comuns as coisas dos apelidos, das perturbações desagradáveis uns com os outros, as pequenas perseguições, etc.
    E isso, que ontem era algo natural, hoje já é considerado bullying, uma forma de agressão.

    Estava lendo algo sobre a "violência da busina" que hoje em dia igualmente é considerada uma forma de agressão no trânsito.

    Ou seja, está acontecendo o que aconteceu com o duelo, que era algo extremamente comum e que hoje se nos afigura como um verdadeiro absurdo.
    Ora, tudo isso nos leva a deduzir que efetivamente estamos crescendo ao aprofundar os nossos conceitos do certo e do errado.

    Abraços!

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  2. Esse primeiro parágrafo de Lázaro realmente não tem como não fazer a gente parar para refletir. É uma longa caminhada...ardua, mas possível.

    Uma frase que bem combinaria a não maldade seria: "não faça com os outros o que não gostaria que fosse feito à você".

    Utilizando o bom senso e lembrando da frase acima acredito que faremos muito mais o bem que o mal.
    Ótimo texto

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