Em o "Livro dos Espíritos", questão 630, os benfeitores espirituais afirmam a Kardec que "o bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta".
No livro intitulado "A Gênese", no capítulo III, afirma Allan Kardec que "sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem". Origem essa que, conclui o codificador, procede do próprio homem no exercício do seu livre-arbítrio.
Diante desses conceitos, devemos atentar para as nossas atitudes e pensamentos em relação ao próximo, uma vez que muitos indivíduos não consideram suas ações como maldosas, por entenderem que maldade teria um conceito diverso, mais gravoso.
Praticar o mal, no entanto, significa realizar tudo aquilo que deixa o próximo infeliz, que incite a separação, as contendas, o ódio nos corações humanos, o desequilíbrio e a miséria moral. Ainda que nosso pensamento não se concretize, através de uma ação, o "simples" fato de pensar o mal, já traz consequências infelizes para nós e para os outros.
Inclusive, uma atitude comum a todos nós e que leva no próprio nome a maldade é a maledicência.
Apesar de muitos pensarem que falar mal de alguém não se constitui como maldade, devemos recordar as palavras de nosso Mestre amado, quando nos aconselhou a perdoar as ofensas, retribuir o mal com o bem e amar aos nossos inimigos.
Quando pensamos mal de alguém, e consequentemente transformamos em palavras a nossa intenção inferior em relação a outrem, enviamos para esta uma carga de sentimentos infelizes, contrários à Lei de Amor que deve viger nos corações daqueles que se propuseram a seguir o Nazareno.
Evitemos, portanto, dar ensejo à maledicência no nosso trato diário com o próximo, além das outras inúmeras paixões que nos caracterizam a alma em erro, trazidos de séculos na inferioridade e na prática do mal.
Nos leciona Joanna de Ângelis: "E as paixões hoje são quase as mesmas de ontem, senão mais açuladas, mais violentas e devastadoras, no homem que prossegue inquieto".
Diante desse quadro percebido por um espírito de tão elevada estirpe, devemos nos indagar se formamos esse grupo humano, que continua a satisfazer suas paixões de forma ainda mais violenta e devastadora, atrasando-nos a marcha de forma aparentemente eterna, mas que um dia será retomada, seja por escolha própria, seja pela imposição da dor.
Allan Kardec, insígne codificador, aduz: "Deus não criou o mal; foi o homem que o produziu pelo abuso que fez dos dons de Deus, em virtude de seu livre arbítrio".
Ora, como Deus haveria de criar algo que contrarie sua própria Lei? O que Ele criou foram seres capazes de igualmente criar obras de menor magnitude, mas que poderiam verter para a bondade ou serem direcionadas para causar infelicidade.
Sendo assim, nós, Humanidade, através do poder que nos foi concedido pela Divindade, optamos pelas obras que produzimos, dedicando-nos a criar tudo que acelera a evolução da sociedade ou realizar tudo aquilo que atrase nossa marcha evolutiva, ainda que temporariamente.
Lázaro, em uma mensagem intitulada "A lei de Amor", presente no Evangelho Segundo o Espiritismo, nos traz o seguinte ensinamento:
Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor...
Os instintos, as sensações e os sentimentos estarão presentes na existência humana em determinadas combinações, durante todo o processo evolutivo, com a preponderância de alguns sobre os outros.
Na fase inicial de sua jornada – na condição de simples e ignorante – é possível que o instinto lhe seja o melhor guia; à medida que desenvolve as potências da alma – a inteligência, a vontade – ele tende a apegar-se às sensações, pois não desenvolveu ainda, na mesma proporção os sentimentos, que permanecem como presença latente e promessa futura; como a inteligência desenvolve-se mais rapidamente, na ausência de sentimentos como a fé, a esperança, a caridade, o homem tende a prender-se à sensações materiais; por fim, aliando a inteligência (instruído) e as experiências de vida (depurado), os sentimentos começam a ocupar maiores espaços de manifestações anímicas no homem.
Podemos, assim, afirmar que os instintos e as sensações ainda convivem conosco hoje, pois como espíritos encarnados, imersos em um corpo físico, estamos sujeitos às leis e às atrações da matéria, porém os sentimentos tendem a dominar-nos a alma, aliado à inteligência, que já temos desenvolvido sob as suas diversas modalidades.
Podemos perceber, assim, que de forma geral, os seres humanos priorizam o avanço intelectual para, após, preocupar-se com o avanço moral (sentimentos). Enquanto este último não chega, estão entregues às sensações impostas pela matéria, envolvendo-se com a satisfação dos prazeres proporcionados pelo sexo, poder e demais sensações meramente materiais.
Após o sofrimento, que é consequência natural do abuso das aludidas paixões, o homem passa a atentar-se para o sentimento, preocupando-se mais com o próximo, com as dores alheias e com o avanço sentimental.
Quando, então, atingirmos o patamar mais elevado de prática do Bem, estaremos livres de qualquer sentimento inferior, dentre eles o mais prejudicial, que é o da maldade, responsável pelas dores que tanto conhecemos neste Orbe.
Com esperança no futuro que nos chega a passos lentos, temos a certeza de que, à medida que depuramos nossos corações, a maldade vai fazendo parte de nosso passado sombrio, que um dia não será nada mais que uma lembrança ruim de um tempo que jaz há muito esquecido!